8.11.05

running dog


Na minha infância tinha um cão, que apesar de passar a vida preso por uma coleira e acorrentado, tinha acessos de felicidade repentina que duravam cerca de um minuto.
E então desatava a correr desalmadamente com os olhos esbugalhados de alegria, até que a corrente que lhe tolhia os movimentos mais ousados se esticava, e coleira que lhe abraçava o pescoço lhe causava uma asfixia repentina e inebriante. E então voltava para trás, correndo para o lado oposto, e repetia este vai e vem de alegria explosiva até se cansar. E no fim voltava a ser o mesmo cão cativo mas que por momentos sentiu a liberdade.

1 comentário:

Anónimo disse...

Tás a confundir-te. Aquilo não era alegria. Era a consequencia da falta de estimulos. Ele precisava de movimentar-se para relembrar aos músculos a função deles, activar a corrente sanguínea e libertar alguma energia que poderia retirar dos parcos ossos que roia...