Corria mais um Verão de estio na longa planície dourada. Um verão como todos os Verões. Um Verão quente e seco, amarelado por um sol abrasador. As terras estavam secas, ferviam, absorviam o bafo quente, pareciam as escórias meias arrefecidas de um vulcão em erupção.
As árvores e todas as outras plantas gritavam um choro silencioso de secura, e faziam crer que iriam deflagrar numa rápida e intensa labareda espontânea, assim que o sol do meio-dia se empinasse. Poucas eram as plantas que ainda não haviam sucumbido a este martírio. O chão era amarelo de tons acastanhados por toda a parte. A pouca verdura existente tomava já um tom acastanhado, e restringia-se à copa das árvores mais resistentes e dos arbustos mais espinhosos.
A maioria das fontes secara, e aquelas que ainda tinham água expeliam um fio finíssimo, ou escorriam por líquenes já mais castanhos que verdes. Os charcos á muito que secaram e condenaram os seus aquáticos inquilinos, a uma morte terrível por sufoco e desidratação.
Tudo era seco e duro, e depois de arado se tornava numa imensa poeirada. Poeira que se entranhava na roupa e nos cabelos, e subia pelas vias respiratórias num mais leve inspirar. Tornando a garganta ainda mais seca e o bafo quente ainda mais insuportável.
Os animais viviam mais uma exigente provação, bem pior que a do Inverno gelado e despido. Passeavam cambaleantes as ossadas envoltas num manto de pelo mal cuidado e enxovalhado. As aves limitavam-se ao abrigo nas horas de maior calor, e a procurar alimento nas sementes e frutos quase secos, sendo a sua maior preocupação encontrar água.
Nenhum animal escapava a tamanha secura, fosse qual fosse a seu estatuto na cadeia alimentar. Até já os predadores arreganhavam as peles e dentes com fome e com sede.
E dava uma outra profundidade á frase:”tempo de vacas magras” transformada em:” tempo de lobos magros”.
Pedro na sua moça idade nunca tinha visto um Verão tal hostil como este. Dos dez verões que vivera nenhum se assemelhava a este.
Havia além de um clima seco um clima de mudança vindo não sabia de onde nem movido por quê.
31.7.05
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