22.7.05

A festa dos incêndios

Está aí o estio, estio infernal e sufocante, estio impiedoso, e com ele vem o mesmo cenário, o pandemónio dos incêndios. Pandemónio ou festa como lhe queiram chamar. Digo festa porque tem todos os elementos para que seja assim chamado este fenómeno tão típico de um país em chamas.

É festa porque é uma quebra com a monotonia do dia-a-dia.

É uma festa porque reúne pessoas diferentes em volta de um mesmo objectivo, o de apagar as chamas e de salvaguarda de bens e vidas.

É uma festa porque desperta nas pessoas sentimentos primários de deslumbramento e temor. Pois que o fogo sempre esteve presente nos rituais do ser humano, e é para ele um elemento de grande importância. Um elemento com propriedades hipnóticas e de estimulação de prazer.

Cada um de nós sofre de uma doença piromaníaca, é qualquer coisa de primitivo, entranhada nas mais recônditas instâncias do nosso subconsciente. Qualquer coisa inerente à psique humana e indissociável.

É o fogo que nos maravilha num espectáculo de pirotecnia, que nos hipnotiza.

O fogo enche os noticiários e as pessoas vêem com pasmaceira trágica.

O fogo vale dinheiro, muito dinheiro, para os madeireiros, para os que vendem materiais de combate ao fogo, para as empresas de aviação ligeira de combate ao fogo, para os especuladores imobiliários, televisões blá blá...

O fogo é inevitável num país em que não existe floresta mas plantações mono culturais e minifundiárias de pinheiro e eucaliptos, que apenas interessam aos proprietários e as empresas madeireiras. Plantações completamente desregradas e sem qualquer respeito pelos ecossistemas, ordenamento e paisagem. O único objectivo é o lucro fácil, quanto mais melhor, como não interessa. Que o digam as empresas de celulose.

Só existe duas alturas e que os proprietários dessas plantações se preocupam com a sua cultura, no momento de plantar e de colher.

Ninguém alguma vez ouviu falar de regras no ordenamento florestal. Plantar ou não plantar, o quê, como, e onde.

A paisagem portuguesa sofreu uma enorme transformação neste último século, com a destruição da cobertura vegetal nativa e substituição por pinheiros e eucaliptos. O pinheiro primeiro e o eucalipto depois.

Eucalipto vindo da Austrália que apesar de se adaptar bem ao nosso clima revelou ser destruidor para os solos, para os lençóis freáticos e para as outras espécies.

O pinheiro é bom, mas tanto também não, o pinheiro não resiste ao fogo ao contrário de outras espécies bem mais valiosas como o sobreiro. Julgo que nunca se ouviu falar de um incêndio num choupal, simplesmente porque são espécies que não ardem. Um ecossistema baseado numa plantação de pinheiros é pouco rico. Poucas aves nidificam num pinheiro, poucos animais têm alimento e abrigo neste ecossistema, poucas plantas crescem ao lado de pinheiros. Já não vou falar de eucaliptos.

A Natureza com as suas forças tende sempre para um equilíbrio, se alguma coisa perturba esse equilíbrio todo o meio está em perigo.

O paisagem portuguesa à muito que está em desequilíbrio, ainda mais com o abandono da agricultura.

Só arde o que é propício a arder. Toda a conversa de meios de combate aos incêndios, de prevenção, de captura dos incendiários é quase conversa da treta. Quase!

É preciso fazer alguma coisa, melhor, era preciso fazer muita coisa.

Era preciso mudar mentalidades, acabar com interesses, e ter um pouco de bom senso e respeito pelo que é de todos, pelo património natural.

Porque têm de ser os contribuintes a pagar a factura do combate aos incêndios se o que eles protegem é a propriedade e lucro de alguns.

Gastam-se milhões em combate aos incêndios, e em ajuda ás malogradas vitimas.

E a culpa é claro está do incendiário com problemas mentais, ou que age de isqueiro na mão como vingança passional ou qualquer outro móbil ainda mais fútil que o anterior. Ou dos estóicos bombeiros que se precipitam para cima de chamas com metros de altura, arriscando a vida a troco de nada ou quase nada, que não fizeram um bom trabalho.

A culpa não será de quem legisla, de quem não criou leis e regras e as fez executar, de quem aproveitando-se disso plantou e explorou, e pensou apenas no lucro. De quem pensou apenas em apagar incêndios e não em evitá-los.

Não, nunca!

Por isso digo que arda o que tem de arder, viva o fogo, o fogo é uma festa

1 comentário:

Anónimo disse...

Oh meu caralho:
fui eu que pus os fogos todos de que falaste na tua página...
pagaram-me 1 minie e deram-me 2 tremoços e eu não resisti... tens algum problema com isso? Se tiveres podemos falar disso depois... nós e os meus amigos cabo-verdianos... é o país que temos... umas minies e uns
treoços valem o que valem... pra não falar da ratinha da nossa amiga narrinha, aquela boazona que todos nós queremos foder... é o máximo!
Adeus Nuno, chuta notícias!